Não consigo escrever, já não sei fazê-lo, já não consigo. Está na hora de parar, parar em silêncio naqueles sítios que tão bem conheço, sem nenhum apego deste mundo louco, só eu e o silêncio. É a minha desintoxicação, o caminho para a minha capacidade apaixonada e criativa voltar. Quer dizer, a paixão continua cá, estou apaixonada pela vida, por pessoas, por sítios, por experiências, mas não consigo escrever mais. O que é que se passa? Preciso de ti ao pé de mim, tu davas-me aquele pedacinho de amor que me fazia querer gritar ao mundo, que me dava ímpeto para fazer tudo, até pintar... Eu sei que a inspiração vai voltar, só preciso de fazer coisas diferentes. Eu gosto desta vida de festa, sempre gostei, mas sabe bem um fim de tarde pensativo, sabe bem uma ida ao museu e ouvir música, só ouvir, apreciar sem dançar. Amanhã era uma boa oportunidade para isso, mas o mundo está contra mim, e não vou poder fazer nada do que tinha planeado. Mas só para vos manter ao corrente, tenho andado numa onda muito psicadélica, muito naturalista e sempre com o motion picture da road trip na cabeça. Cabelos a esvoaçar, montes de colares, música no rádio e um sol abrasador lá fora: um run away. E o que eu queria, o que eu queria era encontrar a pessoa que se apaixonasse incondicionalmente pela minha alma, a quem eu quereria ler os pensamentos, a quem não fizesse diferença a complexidade de uma mente magoada e sedenta de vida. Ah e o vento na minha cara, as flores no meu cabelo comprido, por sinal. Cenário idílico tão bom de idealizar, vidas de pessoas que ainda não viveram. Vá lá, eu estou à espera do meu final feliz.