A constante dicotomia do ser, o certo e o errado. A
constante demanda, até à exaustão, de algo superior, da tal pura e bonita
supremacia da criação, que só os errantes encontram, que só poucos viram. Tem
sido um Verão com raízes pouco profundas, com noites melhores que dias, com o
psicadelismo lentamente a inundar-me a existência. A demanda continua, a eterna
procura. A inspiração de um dia menos bom, de um momento em que a alma se
superioriza e o resto é deixado no chão. De repente, cresceram-me asas, mas eu
não sabia como usá-las. Achei que agora que tinha adquirido tal suplemento, de
nada me serviria se não as usasse, se não tirasse os pés do chão e tentasse. E
tentei. E consegui. E lá fui eu. Imagens do mar, de peixes e alucinações,
fizeram-me crer que se me deixasse cair o mar ia apoiar-me nos seus braços. Lá
estava eu na onda, a ser lentamente arrastada para uma terra que não era minha.
Tudo isto culminou num quadro do qual não me sabia capaz, mas fui e de repente
a nossa irrelevante existência pareceu-me do país poderoso que havia. Tinha tocado
na alma, na matéria dos sonhos. Depois de ter voado nos céus, soube bem estar
de volta a terra firme.